A aula é um espaço político em que o
professor tem protagonismo. Por isso a questão relacionada ao discurso político
do professor, durante as aulas, é muito antiga. Dentro ou fora de regimes
autoritários o problema tem aparecido com grande frequência, em todas as
épocas, no mundo todo. Naturalmente que algumas disciplinas são mais expostas
ao problema do que outras. Mas, qual é mesmo o problema?
Na antiguidade grega alguns filósofos
criaram um estilo de ensino que, com Aristóteles, ganhou a denominação de Escola Peripatética. Um mestre, seguido de seus discípulos,
deslocava-se através de campos e de cidades. Os ensinamentos tinham como base
coisas encontradas pelos caminhos trilhados. Foi devido a uma dessas aulas que Sócrates,
mestre de um desses grupos, foi condenado à morte. A condenação aconteceu
devido a afirmações que hoje sabemos serem ideias perfeitamente aceitáveis. Mas
que incomodaram aos poderosos de seu tempo.
Se recorrermos aos evangelhos encontraremos
os primos João Baptista e Jesus de Nazaré sendo condenados, em situações
diferentes, por coisas que diziam a seus discípulos. Os seguidores deles os
respeitavam como professores e bebiam de seus ensinamentos.
Desde aqueles tempos remotos até a
atualidade encontramos exemplos de professores sendo punidos pelo que disseram
a seus alunos ou discípulos.
Todos nós tivemos professores que
assumiram posicionamento político-partidário ou ideológico durante alguma aula.
Por vezes um ou outro resolveu fazer comentários e análises do momento político
ou econômico. Seria esse o problema?
Vamos desenvolver um pouco mais a
ideia.
O que é indesejável?
É natural para disciplinas como Geografia,
Sociologia,
Filosofia
e História a utilização de exemplos do cotidiano para ilustrar ideias e conceitos que
devem ser apresentados em aula.
Não há neutralidade. Somos o que pensamos.
O professor acredita em coisas e seu comportamento está relacionado ao que
pensa e defende. No entanto, precisamos lidar profissionalmente com adolescentes.
Isso exige cuidados éticos importantíssimos.
Já testemunhei casos em que
professores introduziam conceitos religiosos em aula. Em outras situações vi um
ou outro arriscar até mesmo puxar uma oração do “Pai Nosso” em aula, em
situações específicas, acreditando que essa seja comum a todos. Mas se houver
um estudante ateu, judeu, muçulmano ou budista naquele ambiente? O mesmo raciocínio devemos
aplicar ao destaque a candidatos em eleições, partidos políticos, correntes
ideológicas, religiões ou filosofias de que porventura sejamos seguidores. Esta
é uma questão ética da qual o professor jamais pode abrir mão. Para evitar
problemas é importante se preparar com antecedência: plano de aula, preparação de exercícios e demais atividades.
Tratar de religião só se o tema
pedir. Por exemplo, Movimento Reformador Religioso. John Huss,
MartinhoLutero, João Calvino e Henrique VIII são personagens que remetem a
correlações com o presente. Entretanto, os cuidados devem ser redobrados. Não
podemos deixar que nossas crenças apareçam a ponto de incomodar a qualquer
pessoa que seja seguidora de qualquer das correntes religiosas resultantes dos
movimentos reformadores ou dos não cristãos. Nós simplesmente não temos
direito. Mas temos o dever de dar acesso a essas informações e conhecimentos.
Se o espaço de tempo para falar de
questões do cotidiano, usado pelo professor, se alongar excessivamente pode
criar resistências. O primeiro problema acontecerá antes de alguma reação que
possa vir de fora do espaço das aulas. Ocorre que a aula tenderá a ficar chata.
Uma parte dos estudantes pode até acompanhar bem devido as suas características
e interesses individuais. Mas a maioria se deixará levar à dispersão.
As possíveis reações de pais e da
direção da instituição de ensino virão se algum estudante se sentir incomodado.
O que não é incomum. Essas situações são abundantes no magistério do ensino
básico.
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O que é desejável?
A aula de História deve visitar
o presente, mas não pode residir nele.
A Grécia Antiga e a origem da
ideia de democracia
remetem inevitavelmente à atualidade. É importante para o adolescente aprender
as relações entre o passado, a atualidade e as transformações sofridas pelo
conceito de democracia.
Não podemos deixar de apresentar
exemplos variados de práticas democráticas em países diversos. Se usarmos
apenas como exemplo o que se exerce no Brasil, tenderemos a nos mostrar
parciais. Isso não parecerá muito educativo para os estudantes que, por serem
bastante jovens, costumam expor as impressões deixadas pela aula a seus
familiares. Isso pode ser fonte de grandes problemas.
D. Pedro I é um personagem que causa muitas curiosidades aos jovens. O processo
histórico em que ele é destaque é riquíssimo em correlações com a atualidade. A
maioria delas pode ser bem usada. Mas devemos ter cuidado quando tocarmos em
temas sensíveis como a sexualidade do primeiro imperador do Brasil. Poderemos
ser mau compreendidos ou alguns de nossos preconceitos serem expostos e
criticados. Entretanto, as movimentações
políticas de D. Pedro I devem ser exploradas em aula e vão levar à ampliação
dos horizontes políticos dos jovens estudantes. Ter cuidado não significa
evitar os temas.
Evidentemente que as fases mais
próximas do momento atual exigem ainda maiores cuidados. Qualquer que seja a
temática central da aula as correlações com política e economia atuais serão
muito pertinentes. Desde que não percamos o foco da questão central. As
citações de atualidades não podem ser mais do que acessórios ou detalhes. Se a
aula estiver acontecendo em época de eleições os cuidados devem ser redobrados.
Acima de tudo, é nosso dever profissional
apresentar os conceitos, temas e informações. Mas em todos os casos, precisamos
deixar espaço para que o jovem encontre as suas próprias conclusões. – Podem
ser diferentes das nossas e mesmo assim estarem usando corretamente as
informações acadêmicas recebidas, eles têm todo direito a isso.
Não podemos confundir cuidado ético
com covardia. Temos que ter coragem de dar o instrumental conceitual e factual,
de base acadêmica, necessário a que o jovem se desenvolva intelectualmente e
aprenda a entender o passado como algo visceralmente ligado ao presente. As
conclusões que cada um desenvolverá deve ser exercício livre. A capacidade de
leitura crítica da realidade é desejável, mas pode se apresentar com
interpretações diferentes da que o professor tem. Isso deve ser entendido como
natural. Talvez covardia mesmo seja fazer proselitismo com estudantes
de treze ou quatorze anos.
Aviso aos
professores de História
Desenvolvemos sugestões e orientações
para a elaboração de provas e de exercícios.
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