A intenção deste trabalho é
passar um pouco da experiência, acumulada ao longo de muitos anos de magistério,
para que o colega de profissão mais jovem, com pouca prática ou aquele que
passa por momentos de falta de criatividade possam recorrer a este blog.
Nem sempre percebi a preparação
de aulas da forma que apresento neste texto. Aliás, ele não pretende ser mais
do que um conjunto de sugestões, cuidados e ideias gerais que os anos de
prática me fizeram observar.
Os professores adotam práticas
variadas, muitas delas com ótimos resultados. Ninguém deve fazer, da forma como
estou sugerindo aqui, se não sentir afinidades com o este formato.
A melhor aula resulta da
criatividade do professor e de sua sensibilidade em relação ao tipo de
estudante que ele tem em suas turmas. Por isso, bom mesmo é criar seu próprio
método.
Não podemos esquecer que os
estudantes do 6º ano ao 9º ano são muito novinhos e apreendem
tudo com muita rapidez, se conseguirmos apresentar as aulas com o dinamismo
adequado.
Para que tenhamos chances de
sucesso precisamos nos ocupar com cuidados básicos para a preparação da aula.
Vamos dividir o processo
de preparação em seis passos, apenas para facilitar nosso raciocínio:
- Delimitação do assunto a
ser trabalhado.
- Apresentação do assunto
como aula expositiva.
- Criação de um breve
resumo da parte delimitada do assunto a ser apresentado.
- Seleção de imagens.
- Escolha de uma atividade.
- Acompanhamento
da execução da tarefa de aula.
Agora vamos detalhar um pouco
mais cada uma das preocupações levantadas.
1º
Passo - Delimitação
A delimitação é necessária para
que a aula não se perca em assuntos correlatos que, embora interessantes, podem
atrapalhar mais do que ajudar.
Apenas a título de exemplo,
imaginemos que a aula a ser preparada seja para turmas do 8º ano e o
assunto seja o Segundo Reinado no Brasil.
De forma alguma devemos pretender
esgotar o assunto, muito menos de uma vez só. A aula ficará cansativa e confusa
para estudantes de Ensino Fundamental.
O mais indicado é subdividir o
tema e diluí-lo em várias aulas.
Vamos tomar como base a divisão
tradicional do período do Segundo Reinado: Política Interna, Economia, Sociedade,
Política Externa, Crise da Monarquia (lembre-se que esta subdivisão pode variar
bastante).
Facilita começar pela Política
Interna pois já teremos tratado, em aulas anteriores, do processo político do Primeiro Reinado e da época das Regências. As turmas se sentirão mais seguras
porque reconhecerão alguns personagens com os quais já tiveram contato. E perceberão
a complementaridade das informações, o que causa um tipo de atração emocional à
aula.
2º Passo - Apresentação
As relações com questões
políticas da atualidade serão inevitáveis e bem-vindas, tanto as originárias de
perguntas quanto as provocadas pelo professor. Mas não devemos nos deixar
empolgar. O professor de História deve, nesta fase de escolarização, apenas
apresentar as informações e induzir a análises simples. Mesmo que alguns dos
estudantes se mostrem mais empolgados e participativos com as relações e as
análises mais refinadas. Os estudantes menos maduros (a maioria) não
acompanharão a conversa e a atenção se perderá.
Devemos tentar ser sucintos e
objetivos ao expor as ideias principais do recorte temático escolhido. Deixemos
o restante (aprofundamento possível para esta fase escolar/faixa etária) para
ser apresentado pelas imagens e pelas atividades a serem desenvolvidas
após a apresentação expositiva.
Não devemos deixar de responder
às prováveis perguntas, que devem ser muito bem recebidas por nós. Apenas devemos
nos esforçar em dar respostas curtas, direcionadas a turma toda, pois pessoas
nessa faixa etária não costumam conseguir reter atenção para raciocínios longos
e complexos. Novamente devemos apostar que, na execução das atividades,
o estudante mais curioso e com maior facilidade terá oportunidade de ampliar
sua compreensão.
O tempo de oratória (aula
expositiva) deve ser limitado. Nem sempre o que planejamos funciona exatamente
como imaginamos, por isso vamos pensar em um modelo ideal. Digamos que essa
etapa seja programada para o mínimo de 10 minutos e o máximo de 30 minutos
(levando em consideração aula dupla, ou seja, dois tempos de aula em sequência.
Melhor será nos organizarmos para
que a exposição oral seja acompanhada de imagens e informações apresentadas em
frases curtas projetadas para o grupo. Essa prática costuma causar bom efeito
de reforço e interação dos estudantes com o assunto da aula.
A exposição oral pode ser
interrompida para a apresentação de um vídeo, por exemplo, e ser
retomada em seguida. A interrupção e retomada costuma reforçar o interesse da
turma e causar novos motivos para curiosidade.
Se o recorte escolhido para o
tema é a Política Interna no Segundo Reinado, e surgirem perguntas relacionadas
a outros recortes do período, sugiro que sejam respondidas, mas tratadas com a
máxima brevidade. Não podemos correr o risco de parecermos repetitivos nas
aulas seguintes ou de nos perder do centro do assunto do recorte temático
escolhido.
3º Passo – Criação de breve
resumo
Devemos apresentar a aula em
sequência cronológica e vocabulário acessível. As palavras incomuns e conceitos
devem ser apresentados e traduzidos. A ordem do texto deve ser clara e fácil,
de forma que alguém que é pouco mais do que uma criança (é o caso da maioria
dos estudantes do Ensino Fundamental) seja capaz de acompanhar sem
dificuldades.
O ideal é que as informações
sejam apresentadas em poucas palavras e com frases curtas, como já foi dito
aqui. Melhor que estas frases sejam mostradas entre as imagens projetadas para
a turma. Devem ser apenas um reforço à exposição oral e complemento às imagens.
Não podemos esquecer que os
estudantes vão acessar textos mais completos em seus livros didáticos, na
internet e em outros textos que nós mesmos podemos fornecer ou indicar. Por
isso, o texto da aula expositiva pode e deve ser extremamente sucinto. Mas o
improviso ou o texto descuidado são desaconselháveis, os estudantes percebem mais
do que imaginamos.
Os estudantes não toleram contradições. Se o que nós mostrarmos não
estiver de acordo com o livro texto básico ou com a informação mostrada no
vídeo, o erro parecerá ser sempre de seu professor (nosso). Nem adiantará
tentar explicar ou provar. Se houver equívocos no texto do livro, melhor avisar
antes, orientar a correção e depositar a culpa na gráfica (parecerá
contraditório que o autor escolhido pela escola seja ruim a ponto de cometer
erros em seu livro).
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A maioria dos estudantes não têm
informação prévia dos assuntos apresentados em aula. Mesmo com toda a gama de
ofertas de informações pelas mais diversas fontes. Por isso, seleção adequada e
cuidadosa das imagens é fundamental para o sucesso da aula.
Podemos usar fotos, mapas,
gráficos, charges, caricaturas ou filmes, de arquivo pessoal ou copiados na WEB
(há muitas imagens de acesso livre, sobretudo quando o uso é educativo e não
comercial).
A escolha deve recair sobre as
imagens que mostrem ou representem melhor o assunto, ou a parte dele, que
estamos destacando na aula.
Precisamos evitar a abundância
excessiva. Nada que canse e cause desinteresse. Não podemos esquecer como é
fácil o desvio atenção em pessoas tão jovens.
O ideal é que as imagens sejam
comentadas de forma a fazerem parte da aula expositiva.
Devemos nos imbuir de toda a
paciência para encarar as dúvidas, curiosidades e dificuldades de compreensão
como coisas naturais.
O Ensino Fundamental faz parte da
etapa de construção das bases do conhecimento acadêmico. Não podemos apostar no
conhecimento prévio. Quando apresentamos um mapa que mostra a representação da
Península Ibérica, nem sempre o estudante consegue compreender. Os motivos
podem ser variados. É possível que o professor de Geografia ainda não tenha
trabalhado informações sobre as regiões da Europa. Talvez alguns não tenham
compreendido bem a aula de Geografia, mesmo que o assunto tenha sido trabalhado.
Ou, o que seria mais grave, podem não ter aprendido nos primeiros anos de
escolaridade o conceito de península.
O mesmo raciocínio se aplica a
leitura de gráficos e a interpretação de charges.
Quanto aos vídeos, devem
ser muito curtos. Trechos de filmes comerciais, trechos de documentários e
filmetes que apresentam assuntos e temas históricos, todos disponíveis na
internet.
O ideal é que tudo seja copiado e
organizado para que a apresentação mostre que foi preparada por nós. Não
podemos arriscar acessar a internet na hora da aula, pois correremos o risco de
enfrentar problemas incontornáveis.
Podemos levar nosso próprio
computador, com a aula toda pronta salva na memória da máquina, ou levar um pen
drive e conectá-lo ao equipamento disponível na instituição em que trabalhamos.
OBS – Lamentavelmente,
em várias escolas os equipamentos necessários não existem ou não estão
disponíveis para que o professor faça apresentação de imagens digitalizadas.
Nesse caso resta-nos imprimir as imagens que nos for possível, protegê-las em
envelopes plásticos fechados e apresentá-las na aula, de forma que circulem de
mão em mão.
5º Passo – Escolha de uma
atividade
Depois de terminada a parte
expositiva da aula entraremos na execução da tarefa de aula.
Esta pode ser apresentada como
imagem digitalizada, contendo as perguntas, questões ou desafios, da mesma
forma que a primeira parte da aula. Podemos também usar papel impresso e
distribuí-lo aos estudantes. É possível também lançar mão de algum exercício
que o livro texto traga.
Não importa se a nossa opção
recair em exercícios individuais ou em grupos, com objetivo avaliativo
ou não. O mais importante é que os estudantes percebam a tarefa como um desafio
intelectual.
Aviso aos professores de História
Desenvolvemos sugestões e orientações para a
elaboração de aulas, provas e de exercícios.
Acesse aos links
6º –
Acompanhamento da execução da tarefa
Na atualidade a maioria dos
estudantes tem acesso à internet na palma da mão. Não é aconselhável tentar coibir
essa ferramenta. Ao contrário, ela pode ser de grande valia. Precisamos deixar
claro que os estudantes podem e devem consultar seu livro, a internet e os
colegas, mesmo em tarefas individuais e avaliativas. Não podemos esquecer que o
exercício faz parte do processo de construção de conhecimentos.
Os mais ágeis e os que
compreenderam melhor auxiliarão os outros. O que reforçará a socialização e o
sentimento de grupo. Não podemos abrir mão de nossa responsabilidade como
educadores. Mas se faz necessário que todos mostrem que têm registro dos
exercícios e suas respostas.
Os detalhes devem ficar para que
o estudante pesquise e descubra ao realizar a tarefa proposta. Cada resposta
encontrada será valorizada como uma conquista.
Nada de sentar e esperar que
todos os estudantes terminem a tarefa. Devemos circular pela sala e nos mostrar
disponíveis para orientar e tirar dúvidas. Esse momento será também a
oportunidade para aqueles estudantes que anseiam maior aprofundamento serem
abastecidos por nós.
Podemos corrigir a tarefa, de
forma coletiva, antes do final do tempo de aula (dificilmente haverá tempo para
isso), podemos apresentar a correção na aula seguinte, outro dia, ou
disponibilizar os exercícios e as respostas em plataformas eletrônicas
(internet). – Foi assim que este blog surgiu.
Obs – Precisamos
abreviar mais o discurso, a aula expositiva, se as turmas forem mais novas.
Geralmente uma turma de 9º ano pode suportar alguns minutos mais de aula
expositiva que uma turma de 6º ano. Sem contar que poderemos fazer aulas
um pouco mais críticas e analíticas, quanto mais avançarmos na faixa etária dos
estudantes
DEPOIMENTO
Espero que esta publicação seja
útil a alguém, em algum local, a qualquer momento. Quando iniciei no magistério
não encontrei apoio algum além da minha própria criatividade. Ansiava por um
professor mais antigo que me orientasse, alertasse e sugerisse soluções. Este
jamais apareceu, exceto em ocasiões furtivas e pontuais e algumas vezes de
forma desagradável. Vários tropeços precisaram ocorrer para que pudesse
desenvolver minhas estratégias.
Hoje, o que fui capaz de acumular
ao longo da estrada profissional, quero difundir a quem desejar acessar. É
minha humilde forma de colaborar com a melhoria do ensino no Brasil.
Espero que os leitores desta
página façam perguntas, críticas e sugestões que possam ajudar a aperfeiçoar o
trabalho do blog Engenho dá História.